Coletes amarelos: o que esperar?
19 Dez 2018
Coletes amarelos: o que esperar?

Em nome do Grupo Parlamentar do PS, Tiago Barbosa Ribeiro fez uma possível antevisão para a manifestação dos autodesignados «coletes amarelos» que vai decorrer na próxima sexta-feira.

Em declarações ao jornal «Expresso», o deputado socialista considerou que «os coletes estão a mimetizar o modelo e o processo franceses, um movimento que, ao contrário deste, tinha, pelo menos, uma razão concreta [o aumento do preço dos combustíveis]», acrescentado: «Não vejo grandes condições de sucesso, nem me parece que isto seja a semente de algo maior».

Mesmo reconhecendo que o «problema de representatividade e participação democrática», que existe nos órgãos de decisão, nos partidos e nas organizações sindicais, pode ser terreno fértil para o crescimento de «movimentos populistas», algo «obviamente preocupante», o deputado socialista lembra as realidades dos dois países são muito distintas: «As condições sociais e políticas que se vivem em França são muito diferentes. Em Portugal, este movimento parece nascer a partir das caixas de comentários das redes sociais, contra tudo e contra todos, mas sem ser contra alguma coisa em concreto. Nasce em contraciclo, num momento em que há um esforço de recuperação de rendimentos e de direitos sociais. Não me parece, por isso, que vá ter grande capacidade de mobilização», antecipa Barbosa Ribeiro.

Ao DN, também sobre este tema, Tiago Barbosa Ribeiro reiterou que «esta é uma tentativa muito difusa e líquida de importar a estética e a metodologia do movimento de protesto em França, mas a realidade económica, social e política no nosso país é muito diferente».

O deputado do PS afirma que, pelo que tem visto nas redes sociais, «não há um caderno coerente de reivindicações», mas admite que «é legítimo e livre o protesto, desde que dentro das regras estabilizadas». Tiago Barbosa Ribeiro assume, apesar disso, que lhe faz «confusão» que haja um movimento de protesto sem rosto e que tenta «instigar os típicos protestos das caixas de comentários para a vida material». Não vê, diz, que na sociedade exista este nível de insatisfação.

Tiago Barbosa Ribeiro relembra, por exemplo, que em 2012, quando houve milhares de pessoas a protestar na rua, havia um mote contra as mexidas na taxa social única (TSU). Um protesto que acabou por ter o apoio dos sindicatos e até dos partidos que se opunham ao governo de então de Passos Coelho e Paulo Portas. «Nada disso acontece agora», insiste.

O deputado socialista diz compreender que as forças de segurança estejam preocupadas: «admito que o movimento tão difuso e que pretende abranger todo o território se torne difícil de antecipar», diz. E reconhece o perigo da infiltração de movimentos da extrema-direita nos protestos. «O que dá forma a estes protestos são razões mais populistas, associadas tipicamente a movimentos antissistema. Aparentemente a manifestação está a ser instigada pelos sites de fake news, associados ao extremismo de direita.»

Tiago Barbosa Ribeiro admite que alguns dos que venham a participar na manifestação nada tenham que ver com os extremismos: «admito até que não hajam duas pessoas com a mesma reivindicação no protesto», diz, concluindo que não espera que mais do que umas poucas dezenas se manifestem em todo o país.

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