Deputado socialista e apoiante convicto de Pedro Nuno Santos diz que o socialista mais apontado ao pós-costismo tem tempo e não vê "qualquer racionalidade" num regresso seu hostil com a atual direção.
A previsão chegou já no final da conversa, quando Tiago Barbosa Ribeiro respondia aos habituais desafios do “Carne ou Peixe” do programa Vichyssoise, na Rádio Observador. O socialista antevê António Costa como candidato do partido pela quarta vez às legislativas de 2026. Um cenário que atrasaria o plano da figura que gostaria de ver ao comando do partido no futuro, Pedro Nuno Santos. Sobre o amigo e socialista que apoia, Barbosa Ribeiro diz que terá tempo.
“Neste momento vai ser deputado do PS, de uma maioria que suporta um governo que tem vindo a ter um excelente desempenho”, diz quando questionado sobre qual deverá ser o posicionamento de Pedro Nuno no regresso ao Parlamento a partir desta semana. Diz mesmo não ver “qualquer racionalidade” noutra postura que não seja a de alinhamento com a atual direção do PS.
Mas também diz que o socialista que mais se aponta ao pós-costismo “mantém todas as condições para ser aquilo que quiser no futuro do PS”, mesmo depois da turbulência de todo o processo TAP. Mas a conversa começou pela necessidade de mexer no elenco governativo.
O presidente do PS já insistiu por estes dias que o Governo precisa de uma remodelação. É mesmo necessária?
Quem decide se a remodelação é necessária ou não é o primeiro-ministro. Ouço sempre com muita atenção as palavras do presidente Carlos César, de quem sou admirador confesso e amigo, e reconheço nele sempre muita ponderação e conselhos avisados para o Governo.
Mas quem decide se é necessária ou não uma remodelação é o primeiro-ministro e creio que devemos desdramatizar o tema. Já houve outras e certamente terá de haver remodelações, não necessariamente pelo desempenho dos ministros, mas por razões de desgaste das funções.
Quando e se surgir, o PS tem felizmente muitos quadros para assumir funções governativas.
Há uma combinação entre Carlos César e António Costa ou há aqui uma divergência?
Não considero que seja uma divergência, não sei se haverá algum tipo de articulação de mensagem nesse sentido. O Presidente Carlos César é alguém com muita experiência, ponderação e visão política. Os seus conselhos o que ele diz deve ser ouvido com muita atenção, tal como o que diz e faz o primeiro-ministro, a quem também não falta experiência e visão política. Entre os dois, o PS está bem dirigido.
Essa experiência política de Carlos César seria importante dentro de um governo, como vice-primeiro-ministro?
Creio que o contributo de alguém com a experiência de Carlos César é sempre bem-vinda a qualquer solução. Trabalhei com ele no grupo parlamentar e vi, através da sua liderança, do seu papel e experiência, o contributo muito positivo e importante que deu naquela legislatura, entre 2015 e 2019.
Porém, neste momento, pelo que diz, creio que não está disponível para funções executivas. Está como presidente do Partido Socialista, está no Conselho de Estado e vai intervindo na vida pública de diferentes formas.
Creio que temos sempre de respeitar essa posição, sendo certo que é alguém muito considerado e ouvido dentro do PS e dentro do Governo, não tenho qualquer dúvida.
João Galamba é um ministro irremediavelmente fragilizado? Ele tem condições para fazer trabalho nas Infraestruturas?
Tem e creio que deve ser dado esse tempo ao ministro João Galamba. É justo que assim seja. As situações que ocorreram, todos preferíamos que não tivessem ocorrido, a começar pelo próprio. Mas a página está virada e neste momento tem dossiês pesados para gerir nas Infraestruturas: TAP, CP, 5G, entre outros. Aquela página mais conturbada foi virada.
…mas está mesmo virada? Ainda na semana passada o ministro voltou a ser apanhado em contra-pé quando se sobrepôs à comissão técnica independente que vai estudar a localização do novo aeroporto de Lisboa, pondo de parte a localização em Santarém. Um ministro assim, que quando fala cria polémica, não cria mais instabilidade no Governo mantendo-se?
Não creio. Nessa matéria já disse que não quis pôr em causa o trabalho da comissão. Sobre localizações todos temos a nossa opinião e temos de respeitar o trabalho da comissão técnica.
Mas ele é ministro.
Ele é ministro e, portanto, terá de respeitar o trabalho da comissão técnica. Depois haverá uma decisão política sobre o trabalho dessa comissão em articulação com o maior partido da oposição.
O João Galamba precisa agora de tempo para mostrar obra, como creio que já mostrou no âmbito da energia. Foi uma pasta que geriu bem, é alguém muito inteligente e trabalhador e tem de ter tempo para que esse trabalho possa ter visibilidade depois de um período inicial que foi conturbado - o que é reconhecido por todos, a começar pelo próprio.
Sou também sensível ao que o primeiro-ministro já disse relativamente às remodelações de membros do Governo: a curva de aprendizagem das pastas é sempre um tempo complexo e que não pode ser desvalorizado até aparecerem resultados. É preciso colocar agora os carris nos eixos, é o que todos esperamos.
Acredita que Costa fica até ao fim da legislatura? E se houver pressão internacional para sair não deve levar Costa a ponderar essa hipótese, até pelo prestígio que cargos possa trazer para o país?
O primeiro-ministro já teve oportunidade de esclarecer esse tema por mais do que uma vez. Já disse que não está disponível para cargos europeus e que está comprometido com o que foi sufragado pelo povo português, que é uma legislatura com estabilidade até 2026.
Foram claras as palavras de António Costa?
Sim. Recusou já por mais do que uma vez esse caminho. Vou vendo e ouvindo o que é dito sobre isso, o que se compreende. Neste momento é alguém que tem enorme prestígio internacional.
Conquistou-o por direito próprio, está há 8 anos no exercício de funções executivas em Portugal e conquistou esse reconhecimento internacional pela sua competência e trabalho à frente do Governo, mas também pelos bons resultados das políticas desenvolvidas em Portugal.
Também acha que Costa é o garante da estabilidade? Não há alternativas, nem que seja no PS, para assegurar a estabilidade do país?
Essa questão não se coloca, pura e simplesmente. É óbvio que é o garante da estabilidade porque tem uma maioria absoluta, porque já disputou com sucesso várias eleições sob a sua liderança e assim continuará: teremos eleições Europeias para o ano e o PS também entra nelas para ganhar.
A oposição agita a ideia da saída do primeiro-ministro para a Europa e não tenho a certeza de que percebam que, com isso, estão a fazer-lhe um enorme elogio: é sempre motivo de enorme prestígio ser considerado para uma função desta natureza.
Aliás, como é público, o primeiro-ministro já foi convidado em 2019 para funções europeias e na altura recusou.
E para lá de 2026, é possível que Costa se recandidate ainda a esse período ou o PS precisará de refrescar caras depois destes anos todos de governação?
Claro que é possível. Se o primeiro-ministro chegar ao fim desta legislatura com vontade de continuar, terá todas as condições para disputar as eleições seguintes e vencê-las.
Não diga isso a Pedro Nuno Santos…
Então porquê?
Porque quem espera desespera. Ou não?
Não. Eu vou lendo o que se escreve sobre Pedro Nuno Santos e percebo o que estão a referir, mas isso escreve-se e vai-se comentando há anos. Essa questão não se coloca neste momento dentro do PS. É evidente que o meu amigo Pedro Nuno Santos é um grande quadro do PS e nas audições parlamentares que teve recentemente demonstrou essa competência e capacidade.
Pedro Nuno Santos regressa na próxima semana ao Parlamento. Não integrará a comissão de Economia e Obras Públicas. Qual é o lugar dele?
Não sei, isso será entre o Pedro Nuno Santos e a liderança da bancada. Desconheço qual será a sua vontade e terão de ser feitos os ajustes nas comissões para que ele tenha a sua participação.
Chegou a circular a tese de que Pedro Nuno Santos poderia ser líder parlamentar. Faz algum sentido?
[Risos] Não. Repare, fala-se dele para a liderança do partido, para a liderança do grupo parlamentar, para tudo. E eu não vejo o Pedro Nuno Santos a ter qualquer tipo de ação que leve a essas interpretações, portanto tenho dificuldade em compreendê-las. Quanto à liderança do grupo parlamentar está, neste momento, bem entregue.
Eurico Brilhante Dias deve continuar?
Obviamente. Vi uma ou outra notícia sobre isso, mas nem as compreendo. Não vejo qualquer tipo de lógica nessa especulação.
Depois das várias polémicas em que esteve envolvido, Pedro Nuno mantém as condições para ser candidato à liderança do PS?
Mantém todas as condições para ser tudo aquilo que quiser no futuro do PS e já, agora, aquilo que que os militantes entendam que ele tem condições para ser.
É um grande quadro político, creio que isso é inequívoco. Tem um enorme carisma, grande capacidade de liderança e iniciativa política. É alguém com visão, com conhecimento do país e com uma relação muito próxima com o partido que é reconhecida por todos.
Teve agora estes meses a descansar e com mais tempo para a família, fez muito bem.
Agora vai voltar ao seu lugar de deputado e no futuro cá estaremos.
E deve começar já a posicionar-se para essa corrida futura para a liderança do PS?
Essa questão coloca-se há anos.
Mas agora ele não está dentro do Governo, está fora. Vai para a Assembleia da República e terá um comentário televisivo, nessa frente deve começar a distanciar-se face à liderança de António Costa, preparando o seu próprio programa político?
Não vejo qualquer racionalidade nisso. O Pedro Nuno é alguém frontal, que diz o que pensa e que é justo nas avaliações. Vai ser deputado do PS, de uma maioria que suporta um governo que tem vindo a ter um excelente desempenho.
Não ganha nada em desalinhar, é isso?
Não se trata de ganhar ou não, mas de fazer uma análise correta da situação política, do PS, do momento nacional e do Governo. Estamos todos - e o Pedro Nuno, por maioria de razão - comprometidos com o sucesso desta maioria que tem vindo a trazer bons resultados para o país.
E são resultados pelos quais o Pedro Nuno Santos também trabalhou, e muito, quando esteve no Governo. Falamos, em certas áreas, da sua própria herança, como vimos nas audições. Creio que é esse o caminho que vai ter de ser feito.
De resto, enquanto deputado e enquanto comentador, fará a sua análise e dirá o que entender dizer em cada momento, obviamente.
E está convencido que ele teria capacidade para convencer o país, tendo em conta que é uma figura mais radical e conotada com a esquerda do partido?
Teremos de ver o momento e as condições em que essa situação se colocar. É sempre uma matéria demasiado especulativa. Sobre a ideia de ser mais da esquerda ou mais à direita, basta ver que uma parte substancial das intervenções em torno da TAP eram consideradas austeritárias pela oposição, incluindo os partidos à direita, nomeadamente no plano de reestruturação e até nos cortes salariais feitos. Às vezes as imagens…
Ele não é um esquerdista, é isso?
É um socialista, um social-democrata. Acredita numa economia de mercado regulado e na intervenção do Estado quando ele deve intervir em empresas estratégicas e setores estratégicos da economia. Esses radicalismos são imagens que não correspondem ao que as pessoas são.
Mas está à sua direita no espectro político?
De forma alguma.
Só usar a palavra reestruturação e despedimentos, podiam dar recentramento a Pedro Nuno Santos…
Como já há muito tempo defendo a privatização da TAP, haverá muita gente mais à esquerda do que eu a falar sobre esse tema.
São dois perigosos liberais, então…
[Risos] Sim, somos dois perigosos liberais. Está a ver como as coisas são.
É dirigente no Porto, acredita que Rui Moreira vai ser cabeça de lista do PSD às europeias?
Na vida política aprendi a não fazer grandes análises a esse nível.
Teme que haja esse acordo entre o movimento de Rui Moreira e o PSD?
Eu não temo nada. Do que conheço e vou analisando, não vejo é como muito crível que Rui Moreira encabece uma lista do PSD às Europeias. Por várias razões: pelo seu posicionamento da cidade, por aquilo que afirmou no seu percurso político, …
Mas o acordo poderia envolver as autárquicas de 2025 e reduzir as chances do PS de recuperar a autarquia?
Percebo a pergunta, mas creio que o povo portuense tem demonstrado ao longo dos anos e em sucessivas eleições que determinados arranjos não decidem nada. Ninguém é dono dos votos e no Porto isso tem sido muito visível.
Qualquer tipo de arranjo não potencia nenhuma estratégia de vitória, pelo contrário. Mais ainda, do que tenho lido, um alto dirigente do movimento de Rui Moreira já veio dizer que pretendem concorrer às eleições autárquicas sem sigla partidária.
Ora, isso significa que as coisas já estarão encaminhadas noutro sentido que não o desse hipotético acordo, embora eu reconheça que o PSD neste mandato procurou entendimento.
Mas o PSD fê-lo desistindo da cidade nos órgãos municipais, desistindo de fazer propostas e de fazer intervenção política visível na expectativa de, depois, poder ir na carruagem. É curto e não vai ter um bom desfecho.
Será que o PS deve apostar num ministro para recuperar uma câmara importante como o Porto, como por exemplo José Luís Carneiro ou Manuel Pizarro?
O PS tem vários quadros que podem ser candidatos, como já demonstrou noutras eleições.
Isso é um auto-elogio.
Não, é uma resposta à sua pergunta. Estou a dizer que o PS tem vários quadros que podem ser candidatos à Câmara do Porto, ministros ou não.
Mas estes dois enchem as medidas?
São dois grandes quadros do PS. Aliás, um deles já foi candidato duas vezes à câmara. Outro apareceu na imprensa como possível candidato. Com as funções que estão a exercer — e cada um na sua área, estão a exercê-las bem — são obviamente duas possibilidades que o PS tem para a câmara do Porto, entre outras. E, claro, sempre em diálogo com as estruturas do PS Porto. Lá chegaremos.
Vamos avançar para o segmento Carne ou Peixe em que, já sabe, terá de escolher uma de duas opções.
Oh, diabo. Vamos a isso.
Quem brindava com o martelinho no São João: João Galamba ou José Luís Carneiro?
Ambos gostariam muito de receber e dar marteladas no São João do Porto. É sempre algo muito festivo.
Com quem ia beber um café ao Majestic: Rui Moreira ou Rui Rio?
Não teria problema em ir com qualquer um dos dois, mas talvez com Rui Moreira, com quem tenho uma relação mais próxima e mais recorrente hoje em dia.
E ir beber um copo ao Maus Hábitos: com Mariana Mortágua ou Paulo Raimundo?
Não sei… depende de quem estivesse disponível. Não tenho preferência. Não sei qual deles é o melhor companheiro para copos.
Ao lado de que candidato gostaria mais de descer Santa Catarina em 2026: António Costa ou Pedro Nuno Santos?
Já desci com ambos. Já estiveram os dois e espero que possam voltar.
Mas aqui é em 2026…
Em 2026, o candidato às legislativas será previsivelmente António Costa, portanto lá estaremos para descer Santa Catarina.
O previsível é António Costa?
Sim, com certeza. É o primeiro-ministro de um Governo com maioria absoluta.
Links
https://observador.pt/programas/vichyssoise/costa-ate-2030-temido-alfacinha-e-rui-com-macron/