Entrevista a Tiago Barbosa Ribeiro numa peça mais ampla do jornal «i» a propósito da discussão sobre as touradas. Aqui ficam as respostas completas que na versão impressa são ligeiramente mais reduzidas.
1. Se dependesse de si as touradas acabavam em Portugal?
Lembro que não é isso que está em discussão, mas sim: por mim acabavam e não desistirei de lutar pelo seu fim. Já votei propostas nesse sentido nesta legislatura. Mesmo sabendo que não tinham condições de aprovação e que teríamos de legislar na especialidade um período transitório razoável, equilibrado. Não há nenhuma boa razão para que as touradas se mantenham como a excepção nos avanços que temos feito, como sociedade, em matéria de bem-estar animal. Os animais já não são «coisas», acabámos com os animais nos circos e aprovámos leis que punem os maus tratos e a violência contra animais. Ora, as touradas são espectáculos que não existem sem violência gratuita contra animais. Podem dar as voltas que derem que não é possível contrariar este facto porque ele é indesmentível.
2. Revê-se na carta do primeiro-ministro sobre as corridas de toiros?
Absolutamente. Achei-a muita pertinente e educativa. Temos de ter noção de que as sociedades evoluem em torno de consensos reformistas e que não podemos estar sistematicamente bloqueados na nossa iniciativa legislativa. Hoje há um enorme consenso em torno da necessidade de uma maior protecção dos animais e isso não viola nenhuma liberdade individual. No limite viola a liberdade de praticar actos que a nossa sociedade considera, e bem, como violentos e degradantes. Não significa isso, como por vezes leio, que agora queiramos equiparar animais a pessoas. Isso é um disparate. Trata-se de mitigar o seu sofrimento em actos socialmente necessários (como a morte para alimentação humana) e eliminá-lo em actos cruéis e inúteis: lutas de cães, touradas, experimentação animal para cosméticos, etc.
3. O argumento de que as touradas são uma tradição portuguesa não o convence?
Não me convence nem me sensibiliza. As tradições têm de ser compatibilizadas com a evolução das sociedades. Fumar em espaços públicos estava enraizado na nossa sociedade e essa mudança fez-se, tal como muitas outras. Se assim não fosse estávamos bloqueados em atavismos e ainda queimávamos hereges nas fogueiras. Nem tudo o que é tradicional deve ser mantido no confronto com outros valores. E é assim por uma razão de humanismo, de racionalidade e, sim, de civilização.